dante ozzetti

bio
Dante Ozzetti, paulistano, compositor, arranjador, produtor musical e violonista.
Lançou quatro álbuns autorais: Ultrapássaro (2001), Achou! (2006) com Ceumar, Amazônia Órbita (2016) e Abre a Cortina (2021) com Luiz Tatit.
Acumula vários prêmios, entre eles o de Melhor Arranjador e Melhor Disco (Na-1994), vencedor do III PRÊMIO VISA DE MÚSICA – Edição Compositores, prêmio do júri, e prêmio popular, Melhor Álbum (CD Zulusa- Patrícia Bastos) no Prêmio da Música Brasileira (2014), finalista do Prêmio da Musica Brasileira e do Latin Grammy com Batom Bacaba- Patricia Bastos, Melhor Produtor Musical- Prêmio Profissionais da Música (2021 e 2025), Melhor Diretor Musical- Prêmio Profissionais da Música (2023 e 2025)
O CÉU DE DANTE
Por Luiz Tatit
Dante Ozzetti articula as cordas do violão de maneira muito especial: o tom melódico está sempre associado a uma levada rítmica que vai instruir o comportamento da percussão e, depois, do arranjo geral. Muitas vezes tanto o polegar como os três dedos seguintes da mão direita batem repetidamente na mesma corda caracterizando uma pulsação inexistente na tradição da música popular brasileira. Esse detalhe, quando ampliado para a banda ou a orquestra, define um estilo inconfundível.
Quando recebo suas melodias, ainda cruas (sem arranjo), para pôr letra, reconheço imediatamente esse estilo pelo toque do violão que acompanha a linha principal, o que me permite vislumbrar as soluções musicais posteriores e conceber um tema compatível.
Esse detalhe concentrado no gesto do violão ainda tem outra consequência: funciona como uma espécie de âncora que põe seus incontáveis recursos musicais a serviço de uma canção específica.
Os músicos em geral, quando possuem de fato formação musical, costumam transportar a canção para o universo da música, sob a alegação que a música popular só tem a ganhar com a “riqueza” da música culta, e os resultados são quase sempre precários. Dante sabe que o foco estético e informativo está em outro lugar e faz de tudo para valorizá-lo. Nesse ponto, sua atuação vem lembrando a de Tom Jobim, um dos poucos músicos de alta qualidade que quis e soube encaminhar sua competência sonora para o mundo da canção, pensando sempre na relação entre melodia e letra.
A passagem vitoriosa de Dante pelo Prêmio Visa de 2000 teve um sentido, ao mesmo tempo, de consagração do músico arranjador, que já vinha imprimindo sua marca pessoal na direção musical dos discos da sua irmã Ná Ozzetti, e de revelação do compositor de extrema originalidade. Não é por outra razão que seu trabalho arrebatou o público e o júri do concurso logo nas primeiras apresentações, apesar da qualidade dos seus concorrentes.
Há algo especial em Dante Ozzetti que começa no seu toque de violão, se expande pela linha melódica e ganha toda a sonoridade orquestral que cobre a canção. É a própria metáfora do céu que envolve a Terra, o que me faz pensar no “céu de Dante”. Ultrapássaro, a canção em parceria com José Miguel Wisnik, que da o nome ao disco, ilustra com perfeição esse voo as alturas como se contornasse os limites celestes, os únicos respeitados pela canção brasileira.
São Paulo, agosto de 2001

